Pela Ciência, contra o obscurantismo

Nós, Cientistas Engajados, vemos com imensa preocupação a disputa presidencial neste segundo turno. A vida moderna com automóveis, televisão, elevadores e celulares pressupõe o avanço do conhecimento. E para avançarmos precisamos de liberdade de pensamento.

Nós decidimos lançar candidatos para disputar as eleições parlamentares este ano para defender políticas públicas com fundamento científico. Propostas como a da inclusão do “criacionismo” no currículo escolar, da educação fundamental à distância e da fusão dos ministérios da Agricultura e Meio Ambiente feitas publicamente pela equipe do candidato Jair Bolsonaro são indignas de um país como o Brasil.

O “criacionismo” e a Ciência estão em esferas diferentes da vida em sociedade. O papel do Estado, através da Base Nacional Curricular, é passar para as novas gerações não só o que de mais avançado a Ciência produziu, mas também o pensamento científico. Sem crianças aprendendo Ciências não teremos adultos produzindo tecnologia. Essa é uma conquista humana que decretou o fim da Idade Média e o início da Era da Iluminação. Não podemos voltar ao obscurantismo medieval. Defendemos veementemente que a crença religiosa é uma questão de escolha particular e de foro íntimo de cada cidadão não uma questão de Estado.

É de conhecimento geral que a Educação Fundamental, além de ser responsável por repassar conteúdos básicos do conhecimento acumulado pela Humanidade nos últimos séculos, é também um espaço onde nossos pequenos aprendem a viver em grupo e a respeitar o próximo. Uma vivência indispensável para a construção de uma sociedade civilizada. Implementar o ensino a distância nessa fase da vida das crianças é utilizar o avanço tecnológico para o retrocesso civilizatório. É jogar uma bomba atômica dentro das nossas escolas.

Esse é o mesmo efeito que vai ter se acabarem com o Ministério do Meio Ambiente. O Brasil é um país megadiverso. Com riquezas e potencialidades imensas. Um dos nossos maiores potenciais está exatamente na nossa biodiversidade. Reduzir a importância da defesa do meio ambiente para o futuro do nosso povo é inaceitável. Por isso, nos posicionamos contra a fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente assim como somos contra a junção dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações por acreditar que tende a desorganizar o Sistema Nacional de C&T.

Na sexta-feira, dia 19 de outubro, o Brasil recebeu a notícia de que Luzia, esqueleto humano mais antigo das Américas, foi recuperada nos escombros do Museu Nacional incendiado. Na mesma semana, dezenas de pesquisadores brasileiros foram homenageados com a Medalha do Mérito Científico durante as comemorações da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Homenagem prestada pelos avanços conquistados em suas áreas mas, acima de tudo, pelos serviços prestados ao desenvolvimento do Brasil. Queremos deixar claro que isso não seria possível sem a liberdade acadêmica e a autonomia universitária conquistadas na década de 1980.

Pedimos para que os eleitores considerem os riscos envolvidos na decisão a ser tomada no próximo domingo e se decidam por não eleger Bolsonaro.

Cientistas Engajados